top of page
L i n h a M a r

Quando comecei a pensar na minha primeira linha de luminárias fiz uma lista do que eu queria pra ela: materiais sustentáveis, mão de obra bem remunerada, peças que iluminam com aconchego, sem agredir os olhos nem criar sombras esquisitas no rosto, uso das técnicas de costura e alfaiataria na ornamentação e no funcionamento das peças. Escolhi o algodão crú por ser um tecido que não requer tinturaria e por isso gasta muito menos água em sua produção. Mas a surpresa é que sua cor e trama melhoram muito a luz das lâmpadas mais usadas nas casas, sejam led ou inteligentes, as de base E27. Comecei testando todos os modelos de maquete textil que conhecia. Fiz o esqueleto de uma caixa retangular de arame com uma lâmpada dentro pra testar o efeito de cada uma delas. Acabei me apaixonando pela mais simples, a Nervura, uma costura super delicada que se faz na máquina, mas pode se dizer que é feita à mão, porque o tecido tem que ser dobrado no lugar certo e costurado bem na bordinha, fazendo linhas retinhas, paralelas, a intervalos iguais, perfeitinhas. Eu tinha aquela caixa retangular de luz linda pra começar minha luminária. Pensei que seu pé tinha que se relacionar com ela pela geometria.

Cortei um retângulo de madeira e comecei a experimentar vários formatos e eixos para o casamento entre uma base de madeira e uma caixa de luz. Era minha primeira vez trabalhando com madeira. Me apaixonei pelos desenhos de seus veios e anéis e entendi que a Nervura podia se inspirar na madeira em vez de ser perfeitinha retinha paralelinha. Cada nervura teria seu desenho próprio. A primeira luminária que saiu não tinha nome, era uma caixa retangular alta, como um prédio. Na segunda procurei mais leveza e resolvi explorar a assimetria. Na experimentação de diferentes posições para a cúpula, ela lembrou muito uma Jangada. Nesta época o Condomínio São Luiz, que meu pai, o arquiteto Marcello Fragelli (1928-2014), tinha projetado nos anos 1980, tornou público o acesso aos seus jardins, que haviam sido projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994). Fui visitar o lugar e descobri que o trabalho que meu pai tinha feito no concreto era muito parecido com a textura que eu estava fazendo com a costura. Achei que de alguma maneira meu pai estava iluminando meu caminho nessa primeira linha de luminárias. Resolvi chamar a peça que lembrava um prédio de Farol. O nome Mar veio naturalmente.

A linha toda foi surgindo numa investigação de como a caixa de luz nervurada e a base de madeira poderiam se relacionar em diferentes situações e espaços, na mesinha da cabeceira, fazendo uma luz boa pra ler ou namorar, na mesa da sala de estar ou na sala de jantar, iluminando com conforto e sem criar sombras no rosto. Na hora de fazer a Atol, de piso, entendi que a base precisava mudar radicalmente, virar cilindro pra não machucar os pés, e ficar pesada pra dar estabilidade. E quando chegou o pendente Albatroz, as nervuras não davam conta de fazer as linhas circulares que eu precisava pra fechar as laterais da cúpulas. Achei que o bordado Sashiko, técninca japonesa minimalista, funcionou perfeitamente.
bottom of page
